Como o acolhimento temporário de crianças ajudou mulher a enfrentar o luto em RO: 'Nada é para sempre'
Nazaré Melo faz parte do projeto Família Acolhedora Arquivo Pessoal Em 2022, Nazaré Melo e o marido decidiram embarcar juntos em um projeto: acolher criança...

Nazaré Melo faz parte do projeto Família Acolhedora Arquivo Pessoal Em 2022, Nazaré Melo e o marido decidiram embarcar juntos em um projeto: acolher crianças que, por diversas razões, não podem permanecer com suas famílias biológicas. Pouco tempo depois, com a morte dele, o projeto tornou-se essencial para que ela enfrentasse o luto. "Foi doloroso, mas, graças a Deus, hoje eu posso dizer que a saudade dói menos. Com meus bebês [crianças acolhidas] eu aprendi e consigo viver o apego e o desapego", comentou. ➡️ Contexto: Nazaré faz parte do Família Acolhedora, criado através de uma parceria entre o Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) e a Prefeitura de Porto Velho. Através dele, a população pode acolher temporariamente crianças e adolescentes que estariam em abrigos. Atualmente existem 21 famílias que fazem parte do projeto em Rondônia, segundo o Tribunal de Justiça. "Por mais que tenhamos nos abrigos pessoas amorosas, afetuosas, responsáveis e com qualidade de serviço, ele [o abrigo] nunca vai se igualar a uma rotina familiar", explica a assistente social Viviane Bertola. Clique neste link e preencha o formulário para participar do projeto As crianças que vão para as famílias acolhedoras geralmente passaram por algum tipo de violência no contexto familiar. Enquanto a situação é resolvida, elas precisam de cuidados. Não é possível prever o tempo exato; podem ser dias ou meses. "Tudo que a gente pode fazer a gente faz pra que ela [a criança] retorne pro seu lar biológico. Então aquela família que anteriormente violava algum direito dessa criança passa por um processo de educação através dos órgãos socioassistenciais. Essa família [acolhedora] vai servir como um guarda-chuva de proteção até que essa criança possa então retornar pra sua casa", explica Viviane Bertola. Para Nazaré, o projeto representa um ensinamento sobre o desapego, mostrando que o fato de algo ou alguém não "ser seu" para sempre não torna a experiência menos significativa ou emocionante. Uma mensagem que foi essencial para lidar com a perda do marido. "Nós [ela e o marido] tínhamos acolhido uma menina e já estávamos perto de entregar. Eu já tinha atendido um telefonema da equipe dizendo que a bebê já tinha os pais. No meu caso foram dois lutos porque o meu marido faleceu e com duas semanas já foi a entrega da menina", relembra. "É uma emoção pegar uma criancinha, mesmo sabendo que não vai ser sua, que você não vai ter ela para sempre. Porque nada é para sempre, né?", reforça. O bebê que Nazaré cuida atualmente vai fazer cinco meses. Apesar do pouco tempo de vida, ele já tem uma longa história: nasceu prematuro e precisou cerca de dois meses em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para se recuperar antes de ser acolhido. Nazaré Melo faz parte do projeto Família Acolhedora Arquivo Pessoal Em três anos, ela já acolheu nove crianças. Depois de perder o parceiro, na vida e na missão, recebe ajuda do filho e das amigas, que ela carinhosamente chama de "dindas". "Se você perguntar pra mim se eu estou arrependida, eu te digo não. Eu faria novamente a capacitação e acolheria todos os meus bebês que já acolhi até hoje. E pretendo acolher muito mais com a permissão de Deus", incentiva. Leia também: Seis dos 10 estados com maiores taxas de violência sexual contra crianças e adolescentes estão na Amazônia Legal; RO lidera ranking Advogado condenado por estuprar e engravidar a própria filha é excluído da OAB em Rondônia Filha denuncia abusos e ajuda na condenação do pai por estupro de vulnerável em RO: 'Não deixaria acontecer com mais ninguém' Como participar do projeto Família Acolhedora? O serviço já está presente na capital e em Ji-Paraná. Para participar do projeto é necessário: não estar respondendo a processo judicial; ter moradia fixa no município por há pelo menos dois anos; ter disponibilidade de tempo para oferecer proteção e apoio às crianças e aos adolescentes; ter a partir de 21 anos de idade; apresentar concordância de todos os membros da família maiores de 18 anos que vivem no lar; Passar e ser aprovado na avaliação psicossocial. O programa não tem exigências quanto a gênero ou renda. Antes do acolhimento, é necessário participar de uma capacitação intensiva de três dias. Além disso, é oferecido um subsídio no valor de um salário mínimo para suprir as necessidades da criança acolhida. Para cuidar da criança, a família recebe uma guarda garantida judicialmente, como explica a juíza Kerley Alcântara, titular da Vara de Proteção à Infância: "A Família Acolhedora precisa estar cadastrada no serviço municipal. A partir do cadastro, a equipe do serviço encaminha para o juiz o documento de habilitação da família com cópia dos documentos pessoais e um ofício explicando o ingresso da criança no acolhimento e a necessidade de expedir o termo de guarda para a família designada a cuidar". De acordo com a juíza Kerley, o principal objetivo do projeto "é individualizar os cuidados à criança e adolescente acolhido, proporcionar o direito de convivência familiar e comunitária estabelecido pelo ECA, e evitar a institucionalização prolongada". Saiba como se tornar uma família acolhedora VEJA TAMBÉM: Em Porto Velho as inscrições para participar do programa família acolhedora está aberta